– Um rolê pela pela filosofia !
A conhecida e previsível física Newtonia ligada a matemática, aos movimentos lineares, onde a ideia de Deus tinha fulcro nos cálculos corre um grande risco …. pode estar caindo por terra!!
O homem puro como tal era a ideia vigente, refletindo em parte, a teoria Cartesiana[1] de que o homem era guiado por sua razão desde o nascimento; e sendo assim, esse conceito que parece um tanto conformista recebeu um lugar central na Teoria do Conhecimento por muito tempo. Também Kant, outro filósofo que escreveu uma Crítica da Razão pura, desenvolveu suas teorias baseadas na lógica imutável dos gregos.
Mas tarde os filósofos vão percebendo que a Razão e sua teoria pura, não deveria ter um formato tão engessado assim. Retomando aos estudos dos gregos e principalmente os de Aristóteles, foi possível naquele momento observar que a Razão para o filósofo grego, não era só baseada em teorias lógicas ou individualismo, mas era ideal quando levada à prática, o que significava saber como utilizá-la no íntimo do ser e não somente como lógica que desse comandos externos apenas.
A Razão deveria ser uma ética interna que toda comunidade da polis[2] poderia vivenciar tendo a moral como centro, isto é, para Aristóteles ética tem a ver com virtudes de bem alegres, e hábitos herdados.
As ideias aristotélicas afirmavam: “A Felicidade só é alcançada mediante o exercício correto da razão prática.” Essa sentença, aconselho leitor, deve ser arquivada em seus domínios mentais e assim sempre ser acessada, como otimizada para ser utilizada, ao próprio tempero, através de suas sinapses[3]. Para Aristóteles a moral interna determinava o comportamento na Polis.
Assim então,nos idos do século XVII um nome surge no cenário, Baruch de Espinosa, teólogo, e filósofo herege, nascido em Amsterdã, não negava a Razão, porém a remetia principalmente ao pensamento Aristotélico e afirmava ser esta o caminho para a vida plena, para a tal felicidade desejada pela humanidade, sendo a Razão vista pelo pensador com um viés basicamente mais sensível.
Espinosa deixa elegantemente para a humanidade conceitos como: “Sua felicidade depende de estabelecer tal ordem em suas emoções de forma que estas sejam guiadas sempre pela luz da razão”, a sua razão leitor, e “Todas as coisas existem de forma interdependente sim, em completa interdependência” ESPINOSA, 2005.[4]
O século XVIII chamado de século das luzes, foi uma era em que o pensamento aristotélico com relação a ciência sofreu mudanças. Por certo, novas pesquisas iluminaram a visão de como a terra girava. Mas a filosofia do grego no que tange a moral e ética são abandonadas. O movimento iluminista trouxe ganhos para a política e a pedagogia trazendo o conceito de democracia, mas nega conquistas filosóficas anteriores, recusando o viés sensível, trazendo de volta a razão por si só como o centro de tudo.
Mais tarde, com o abrir das cortinas para o Século XIX, novas pesquisas são agregadas a este tema. E, vagarosamente a necessidade de novas descobertas para a filosofia são imperiosas. Os filósofos daquele tempo começam a abordar não mais a razão por si só, mas sim um termo mais flexível. Pensamento.
A categoria pensar, pelo que se observou na Alemanha do século XIX podia ser manifestada por sensações negativas ou positivas, alegria ou tristeza, por falas dentro da mente expressas ou não, conscientes ou não. Estas entidades começavam a ser avistadas e basicamente estudadas pelos gênios da época. Um deles Sigmund Freud que penetra em emoções, uma categoria desconhecida até então, certamente por vergonha e preconceito nos primórdios.
Sentimentos como luxúria, raiva, inveja, luto, abandono e melancolia fazem parte do cenário daquele século. Mas sem dúvida o prazer, a forma de procurar a felicidade e a busca pelo conforto de si próprio já acena uma nova era.
O mesmo século XIX, desta vez na França, o Mal de Siècle[5] era a moda. Foi com Baudelaire no fim daquele século que aparece o termo a mélancolie. E aí que surgiam também ensaios sobre o que eram pensamentos. Aquela personalidade doentia baudelairiana tornou-se uma realidade pessoal para nosso horror. Um horror escutado e lido nos poemas da França do final do século. Tão horror que haveria que escorregar ao sádico, ao perverso[i] e ao patológico. Quem podia pensar em ser feliz assim?
Necessário se tornava que o século XX fomentasse novas pesquisas para a humanidade, as quais adotariam os meios de sair do usual, do conhecido, do chamado doloroso, do hábito de ser alguém previsível no sofrimento. Abandonar a mãe Freudiana, largar o que o pai não fez esquecer os traumas causados pela mulher amada e definitivamente assumir a responsabilidade de ser um você mesmo, responsável pelo que pensa, cria e define como propósito.
Teríamos que sair atrás da tal da felicidade!!!!
A máscara que colocamos porque aprendemos na tenra idade, e vestimo-la interiorizando algo que ouvimos, vimos ou pensamos e guardamos como memória deve ser transformada.
Em meados do século XX poderíamos definir o que eram pensamentos com mais propriedade, pois será o momento do Conhecimento e Informação. Depois de tanta negação das mentes radicais, inclusive as nossas, não se exima leitor, percebemos que o que sentimos o outro também podia sentir. o Outro agora é importante, e o século XX trará ao contexto a Ética da Alteridade[6] definitivamente, onde a felicidade do outro é minha responsabilidade também. Dar adeus aos paradigmas do bem do mal rumo a felicidade e nos adaptarmos ao novo.
As pessoas são indivíduos afetados pelo outrem[7]. E esse outrem é desejo metafísico de sair do mesmo e reduzir-se ao outro. O outro é vida em minhas mãos, ele é um imperativo que me convoca à felicidade e a responsabilidade. O outro pode ser uma comunidade já mencionada em Aristóteles, onde um depende de um outro e de acordo com os novíssimos estudos do século XXI estão interligados por um campo quântico[8]. As nossas falhas e deficiências refletem no nosso campo elétrico e magnético onde o que é linear não importa mais, porém o que é fundamental é o que percebemos de nós indo até o coração.
Coração, lugar de amor e felicidade.
Ao tocarmos no século XXI, Dr. Joe Dispensa, fisioterapeuta e PhD nos ensina que devemos aprender primeiro a sair do cerco da fúria, da fuga, do esconder-se por medo do si mesmo. Quando mergulhamos nos instintos básicos de sobrevivência ou ganância perdemos a nossa Essência. Então acalmar a Mente para poder receber o Outro, o Outro Deus, o novo, o dom, o UNO é a chave. É preciso aos poucos ir reencontrando o que perdemos – o contato com nossa essência.
As descobertas do século XXI, estão indo além da mera realidade linear. Há uma asserção recente de que as coisas que queremos acontecem por intenção, vontade firme e imagem clara na tela mental; não mais como a velha moral afirmava. Então somente com o treino e experimento das recentes pesquisas no âmbito da neurociência[9] e epigenética[10] faremos um giro de 360 para chegar aquilo que podemos chamar de Deus interno, ou seja, a felicidade, a essência, o paraiso.
[1] O filósofo René Descartes , criou uma metodologia metódica, racional e prática, a qual mais tarde tornou a filosofia Cartesiana, ou seja, pessoas que são racionais ao extremo são chamadas de cartesianas.
[2] Palavra de origem grega e significa cidade
[3] Comunicação entre neurônios no cérebro. As sinapses também dão ordens para o corpo.
[4] SCRUTON, R. ESPINOSA. Edições Loyola, São Paulo, 2001.
[5] Esse termo significava ‘depressão’ no século XIX.
[6] A Ética da alteridade é um termo trazido por Emmanuel Lévinas ( 1906-1995) Lituânia- França, e significa que qualquer violência só ocorre pela desvalorização do outro. Para Lévinas o outro é a fonte das grandes experiências.
[7] Termo utilizado por filósofos pós-modernos
[8] É um campo invisível de energia e informação – campo de inteligência ou consciência que existe além do espaço e do tempo. Nada físico ou material existe lá. Está além de qualquer coisa que você possa perceber com seus sentidos.
[9] Campo científico que se dedica ao estudo do sistema nervoso
[10] É um campo de pesquisa que investiga como os estímulos ambientais podem ativar determinados genes e ativar outros.
[i] Termo ligado a Emmanuel Lévinas, que tem como base todo o seu pensamento filosófico onde traz a baila a relação com o outro – âmago de toda vinculação humana.