Uma relação poliafetiva é aquela em que três ou mais pessoas têm um vínculo amoroso e afetivo entre si. Nesse tipo de relacionamento, todos os envolvidos consentem e participam de maneira consensual e ética.
Essas relações poliafetivas e poliamorosas são uma forma de relacionamento não convencional, que desafia as normas tradicionais da monogamia e reconhece a possibilidade de amar e se relacionar com múltiplos parceiros ao mesmo tempo.
Porém cabe lembrar que vivemos numa sociedade monogâmica, e esse modelo de relacionamento é um desafio aos padrões da lei vigente e da religião adotada no Brasil.
O que é a relação poliafetiva
Uma relação poliafetiva é baseada em princípios como honestidade, comunicação aberta, respeito e consentimento mútuo. Todos os parceiros envolvidos têm o direito de expressar suas necessidades, desejos e limites, e é essencial que haja um diálogo constante para garantir que as expectativas sejam compartilhadas e compreendidas por todos.
Nestas relações, as dinâmicas podem variar. Algumas relações poliafetivas podem envolver um vínculo amoroso e sexual entre todos os participantes, enquanto outras podem ter uma dinâmica mais complexa, com conexões diferentes entre os parceiros. Essas relações podem incluir triângulos amorosos, relacionamentos em rede, casais abertos e outras configurações diversas.
Uma das características essenciais de uma relação poliafetiva saudável é a gestão dos sentimentos de ciúme e insegurança. É importante reconhecer que esses sentimentos podem surgir em qualquer tipo de relacionamento, inclusive nos monogâmicos, e que eles devem ser abordados de maneira respeitosa e empática. A comunicação clara e a busca por soluções colaborativas são fundamentais para lidar com essas questões emocionais e manter a harmonia no relacionamento.
Vivenciar a poliafetividade oferece a oportunidade de experimentar diferentes formas de intimidade, suporte emocional e crescimento pessoal. Ao envolver-se com múltiplos parceiros, as pessoas têm a oportunidade de explorar diferentes aspectos de sua identidade e alcançar conexões profundas e significativas com cada um deles. Além disso, a relação poliafetiva pode trazer uma diversidade de perspectivas, e formas de amar, enriquecendo a vida de todos os envolvidos.
Estigmas e desafios
No entanto, é importante mencionar que a poliafetividade ainda enfrenta estigmas e desafios. Muitas vezes, as normas sociais, religiosas, jurídicas e culturais limitam a compreensão e aceitação desse tipo de relacionamento, levando à marginalização.
Embora enfrentem preconceitos, as relações poliafetivas oferecem oportunidades de crescimento pessoal, diversidade de perspectivas e conexões profundas.
É fundamental que as pessoas envolvidas em uma relação poliafetiva se apoiem mutuamente e encontrem comunidades de apoio que possam fornecer compreensão e acolhimento.
No âmbito legal
Em termos legais, a poliafetividade pode enfrentar obstáculos, uma vez que a legislação em muitos países, e no caso o Brasil, ainda se baseia na estrutura tradicional do casamento e não reconhece ou ampara relacionamentos poliafetivos. Por isso, é importante buscar orientação jurídica adequada, principalmente fazer contato com advogados especializados no tema e estar ciente das leis e regulamentações locais.
No início do século XXI, portanto bem recentemente, sociólogos e juristas vêm promovendo mais estudos e pesquisas na esfera do que realmente vem a ser o poliamor, e sua realidade nos dias de hoje em nossa sociedade, fazendo com que mais interesse sobre o tema venha à tona. Mesmo assim, o poliamor é visto ainda como um modelo de relação que endossa apenas encontros casuais.
Não é à toa que, face ao modelo que se apresenta ser considerado de menos valor, o Judiciário insistir em manter sua visão retrógrada negando àqueles que desfrutam deste modelo aberto de relacionamento algum tipo de direito, proteção legal ou direitos de sucessão.[i]
A lei considera que nesta prática de relacionamento há o estimulo ao sexo livre, endosso de orgias sem compromissos emocionais, e assim por que regulamentar qualquer coisa.
O conselho nacional de justiça vem decidindo pela prática de não lavrar qualquer tipo de documento que declare a união estável entre mais de dois indivíduos, argumentando que qualquer ato ou documento a favor da prática estaria infringindo as normas constitucionais que regulam sobre o Direito de família, uma vez que nossas leis possuem códigos normatizados objetivando somente a monogamia como a vertente correta e reconhecida.
As religiões instituídas e a poliafetividade
As visões e atitudes em relação ao relacionamento poliafetivo variam entre as diferentes religiões ao redor do mundo. É importante lembrar que as religiões são compostas por comunidades diversificadas, com diferentes interpretações e práticas. Vou fornecer uma breve visão geral de como algumas religiões podem abordar o relacionamento poliafetivo, mas é importante notar que essas são generalizações e podem haver variações significativas dentro de cada religião
1- Cristianismo: As opiniões cristãs sobre o relacionamento poliafetivo também podem variar. Algumas denominações cristãs conservadoras, como a Igreja Católica e algumas igrejas protestantes, seguem a ideia tradicional do casamento como uma união entre um homem e uma mulher. Portanto, o relacionamento poliafetivo geralmente é considerado incompatível com essas visões mais conservadoras.
2 -Islamismo: No Islã, o casamento é tradicionalmente visto como uma união entre um homem e uma mulher. O relacionamento poliafetivo é permitido de acordo com a lei islâmica, desde que certas condições sejam atendidas, como a capacidade de tratar todas as esposas de maneira justa e equitativa. Nem todos os muçulmanos praticam o relacionamento poliafetivo e o tema é também bastante discutido entre eles.
3-Hinduísmo: O Hinduísmo é uma religião diversificada e aberta a uma ampla variedade de práticas e crenças. Embora o casamento monogâmico seja predominante na maioria das comunidades hindus, existem tradições e textos hindus antigos que mencionam a possibilidade de relacionamentos poliafetivos. Algumas comunidades hindus, especialmente em áreas rurais, podem praticar o casamento poligâmico.
4-Judaísmo: No Judaísmo, a monogamia é a prática comum, e a maioria das correntes judaicas não apoia o relacionamento poliafetivo. No entanto, no passado, o casamento poligâmico era praticado por algumas comunidades judaicas, embora seja extremamente raro na atualidade. Vale ressaltar que há diferentes correntes e interpretações dentro do Judaísmo, e as opiniões podem variar.
Poliafetividade e o catolicismo
O catolicismo tem uma posição bem definida no que tange casamento e sexualidade. A doutrina católica ensina que o casamento é uma união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher.
De acordo com a visão católica, o relacionamento poliafetivo seria considerado contrário aos ensinamentos da Igreja, uma vez que envolve uma união de três ou mais pessoas, o que entra em conflito com a ideia de casamento como uma união exclusiva entre um homem e uma mulher.
No entanto, é importante lembrar que as opiniões e práticas individuais podem variar dentro da comunidade católica. Alguns católicos podem ter visões mais progressistas e serem mais abertos com relação a diferentes formas de relacionamento.Parte superior do formulário
Em conclusão, uma relação poliafetiva é uma forma de relacionamento consensual e ético que desafia as normas tradicionais da monogamia. Baseada na honestidade, comunicação aberta e respeito mútuo, a poliafetividade permite que as pessoas vivenciem conexões afetivas e amorosas com múltiplos parceiros. O respeito pelos limites e a comunicação constante são fundamentais para o sucesso dessas relações.
[i]MURAKAMI, Marcelo Yuji. Poliamor e os impactos no direito das sucessões afetivas: divergências acerca da partilha de bens nas relações afetivas paralelas aceitas mutuamente. Rio de janeiro, 2019. Disponível em: https://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/trabalhos_conclusao/1semestre2019/pdf/MarcelloYujiMurakami.pdf